Consulta ao Urologista

      Quando embarquei no ônibus que me levaria a um cartório na zona norte da cidade,me lembrei do fato que Lucicleide havia me contado.

      Já acomodada,olhando a paisagem urbana que "passava" diante dos meus olhos e sentindo o vento fresco que vinha da janela onde eu estava,relembrava com detalhes a história e de como demos muitas risadas.

       À pedido de seu marido,marcou uma consulta  com o urologista,para levar os exames que fizera e saber se estava tudo bem.

       Como não poderia faltar ao trabalho,Lucicleide iria no seu lugar.

       O consultório fica numa clínica particular muito bem conceituada e frequentada.

       Se arrumou com esmero e saiu apressada.

       Sem perceber,fez sinal e embarcou no ônibus que fazia o trajeto contrário,ao que ela queria.Esse veículo é circular e não por acaso,foi apelidado de "Volta ao Mundo".

       Pensou em saltar,mas poderia com isso se atrasar ainda mais...Procurou se acalmar e seguiu viagem.

       Depois de algum tempo, o ônibus parou e entraram dois homens mal encarados,com roupas maltrapilhas e sujas.Ela infelizmente pôde ver de perto, pois um dos homens se sentou ao seu lado.Pensou em levantar,mas viu que o ônibus estava lotado e como a viagem iria demorar...desistiu da idéia.

        Muito nervosa,mas cautelosamente tirou seu relógio do pulso,deu uma última olhada na hora e guardou-o.Era um relógio caro,presente do seu marido.

        Não demorou muito e um passageiro bem vestido e bem apessoado,
acabara de anunciar um assalto.Apressadamente, pegava os pertences dos passageiros que com medo,entregavam sem resistência.Porém,o "larápio bonitão" não quis saber de"conversa"com o homem mal encarado. Passou batido e foi embora.

         Aliviada, agradeceu a Deus e lembrou o quanto tinha sido injusta e preconceituosa com o homem ao seu lado, que acabou protegendo-a do ladrão.
        Pediu perdão em pensamento.Logo depois ele saltou e a viagem seguiu.

        O cobrador que tudo observava,levantou-se do seu lugar e se dirigiu a ela dizendo:

         _Senhora,por acaso está perdida? Notei que ainda não saltou e já estamos quase voltando ao local que embarcou...

          _Não senhor! Sei muito bem onde estou e onde tenho que saltar._ respondeu.

         _Eu só queria ajudar..._retrucou o cobrador.

         _Sim,eu agradeço.Mas sei para onde vou.Não estou perdida!

         A viagem continuou até que finalmente chegara ao seu destino e saltou.

         Já refeita do susto,entrou no consultório e sentou-se para esperar sua vez.

         Apesar do ambiente da clínica ser climatizado,ela sentia um enorme calor,motivado talvez pelo nervosismo ou porque a sala estivesse lotada por conta do atraso do médico.

         Pelo visto iria demorar...Mais uma vez, teria que ter paciência.

         Olhou a sua volta e percebeu que os homens,era maioria.Alguns mais idosos,outros nem tanto.

         O tempo foi passando e já estava quase escurecendo,quando ouviu a voz do médico:

         _Pode entrar, senhor Jorgelino!

         Lucicleide se levantou e com surpresa, viu se formar uma pequena confusão.

         _Onde a senhora vai? Ele chamou um homem.O senhor Jorgelino! -disse um senhor.

        _A senhora não pode entrar.Está querendo passar na frente do Jorgelino!-disse outro.

         Um deles saiu na porta do consultório e chamava sem parar:

        _ Jorgelino! Senhor Jorgelino!

         Ela parada,não conseguia explicar e a atendente que poderia ajudá-la,tinha saído.Até que quase aos gritos conseguiu falar:

         _Vou entrar sim,pois Jorgelino é o meu marido!

        Todos se calaram diante daquela revelação.Alguns, até sorriram sem graça!

         Na saída da clínica,de volta prá casa pensou que jamais iria esquecer esse dia e de tudo que acontecera...

         Quanto ao Jorgelino?...Irá a próxima consulta sozinho e de ônibus!!!

                                          

         

                                                                                                                 13/06/201