Humor à vista-Crônicas: O "passeio" de UTI

Quando vi entrando pelo quarto do hospital a maca da UTI móvel,fui logo explicando que não seria necessário,pois o paciente(Zezildo),estava muito bem e poderia ir andando fazer o exame solicitado pelo médico.
Ele havia sofrido um desmaio. Caiu no banheiro de casa e precisou ser levado ao hospital, pois fizera um corte profundo em sua cabeça ,que foi suturada pelo médico na emergência ,depois de raspar-lhe uma parte dos cabelos,fizeram então um curativo.
Porém, por precaução,acharam melhor que ele ficasse internado para observação.
Primeiro no CTI, de onde ameaçou fugir e depois em um quarto particular.
Este exame teria que ser feito fora do hospital,em uma clínica especializada.
Os paramédicos disseram-me que o procedimento correto, seria o paciente sair deitado na maca.E assim foi feito.
Zezildo pouco á vontade, deitou-se na maca,que saiu do quarto levada por um dos enfermeiros, atravessando os corredores, sob os olhares curiosos das pessoas que ali transitavam.
Uns olhavam-no com compaixão.Outros curiosos,queriam saber
onde ía e como estava o"moribundo".
Já perto da ambulância,um senhor preocupado em saber o que acontecia,perguntou a minha cunhada,que estava conosco neste dia:
_Senhora,o que ele tem? Coitado!
Ela lhe disse então que ele não tinha nada e que estava muito bem.
_Mas, então...?-O homem nem terminou a frase, pois ela indignada respondeu:
_Isso tudo é um exagero!O senhor saiu sem entender nada.
Eu que a tudo observara,me despedi dela já rindo de toda aquela confusão.
Quando entrei na ambulância,vi que Zezildo estava nervoso e preocupado.Segurava as barras de ferro da maca,com muita força.Tanto que uma delas,desprendeu-se.
Naquele momento me lembrei, de ter visto um filme em que a porta se abre e a maca com o paciente, desce desgovernada ladeira abaixo.E nós estávamos em uma ladeira!
Percebi que ele pensara a mesma coisa.
Para tentar descontraí-lo,resolvi tirar umas fotos com meu celular.
_Sorria!-disse-lhe.Mesmo dando um leve sorriso,vi que continuava tenso.
Foi então que ouvimos a sirene da ambulância.
O motorista ligou-a para sair de um engarrafamento,provocado por um acidente na via.
As pessoas quando viram a UTI móvel ,correram pedindo ajuda.Mas o motorista foi taxativo:
_Impossível.Estou com um paciente!
A cena que se passava diante de mim, era tragicômica.Alguém precisando realmente de ajuda e"nós passeando"de ambulância.E eu não pude fazer nada...
Chegando na clínica,me apressei em assinar a papelada.Já estavam retirando-o,quando a atendente avisou,que não era preciso,pois o aparelho seria colocado dentro da UTI móvel.
Levado de volta, vi nos olhos dele, um grande desespero.
A clínica fica localizada, em uma grande avenida movimentada.Todos que passavam, olhavam-no e se compadeciam.
Não demorou muito,entraram na UTI duas moças jovens e atraentes,que com a ajuda da paramédica,iniciaram a colocação do aparelho(M.A.P.A).
A porta da ambulância ficara aberta e eu pude a tudo assistir.Parecia uma cena de filme erótico... Ele com a camisa aberta no peito,as duas mãos para trás da cabeça e elas passavam um gel para esterelizar o local.Percebi que ele sorria,adorando tudo aquilo.
Do lado de fora,rindo da cena, me preparei para tirar a foto que eternizaria aquele momento mas, ele percebendo minha intenção,fez uma expressão de reprovação que me fez desistir.
De volta ao hospital,ainda deitado na maca ,vi que ele estava mais calmo e conversava com os paramédicos.
Já eu, pensava comigo mesma que apesar de toda aquela confusão,guardadas as devidas proporções, foi divertido.No mínimo,sugeneris.
Zezildo por causa do desmaio que provocou a queda em casa,pela primeira vez tinha sido levado a um hospital e "estreado" em grande estilo:

Cinco pontos na cabeça.
Dois dias no CTI,com ameaça de fuga.
Uma semana no quarto,elogiando e jogando charme para as enfermeiras.
E o "passeio" de ambulância.

Dois dias depois,finalmente, recebeu alta e está tudo bem. Bem?... Não sei...Segundo ele,toda esta estória poderá se repetir, pois ele tem tendência para desmaiar desde jovem.E acontece de quatro em quatro anos.
Aff...Ainda bem que não tinha nenhum psiquiatra naquele momento no hospital...
Senão...